13/10/2016
Não me importei com nada, nem mesmo com a escuridão que avistava no horizonte.
Peguei meu casaco e minha lanterna de bolso e saí querendo ganhar o mundo.
E olha só onde eu estou agora.
Achei que ganharia o mundo e acabei me perdendo de mim mesma.
Meu casaco já surrado não me aquece mais e a minha pequena lanterna, na verdade, nunca iluminou o meu caminho.
Parada em frente a este lugar, prestes a me desfazer do último resquício de dignidade que me resta, eu me lembro de casa, do meu pai, da minha vida. A saudade é tão forte que uma lágrima desce sem aviso. Enxugo-a rapidamente. Aquela não é mais a minha vida, preciso esquecê-la de vez.
Dou um passo a frente, mas uma esperança bem pequena lá no meu interior me faz parar. Olho pro céu e murmuro uma oração, um último pedido de socorro:
- Deus, se Você é mesmo tudo aquilo que me ensinaram na infância e se ainda me ama mesmo depois do que eu me tornei, então, por favor, me ajude.
Não houve trovões, o céu não se abriu, nenhuma voz estrondou. Nada aconteceu.
"Se Deus realmente existe", pensei, "nem Ele não se importa mais comigo".
Engulo o bolo que se formou na minha garganta e dou mais um passo a frente, decidida.
Mas algo me para. Dessa vez não é uma sensação, é um toque mesmo.
Viro, um pouco apreensiva, e e dou de cara com a última pessoa que eu poderia esperar ali: meu pai.
Seus olhos brilhavam com as lágrimas que ele não tinha vergonha de derramar. Ele abriu os braços e eu corri pra eles. Ele não se importou com a minha aparência, nem com nada. Apenas me abraçou.
Ah, como eu senti falta daquele abraço! Parecia que nada poderia me tocar enquanto eu estivesse aconchegada ali.
- Minha menina. - ele repetia enquanto afagava os meus cabelos.
Depois de algum tempo, ele se afastou um pouco e me olhou. Havia tanto amor no seu olhar que eu não suportei e baixei meus olhos para os seus pés. Eu não merecia aquele amor.
- Olhe pra mim, filha - ele disse com aquela voz suave que eu conhecia tão bem.
Relutante, ergui a cabeça.
- Eu amo você - sua voz estava embargada.
- Pai, eu não mereço o seu amor - murmurei.
-Não importa, eu não te amo porque você merece, eu te amo porque você é minha filha, minha menina. Eu quero te levar de volta pra casa, te devolver tudo o que você abandonou. Eu quero te ver sorrir de novo, minha filha. Venha, vamos pra casa! - ele me estendeu a mão.
Seguro sua mão com força e caminhamos na escuridão da noite.
Não mais rumo à minha destruição, agora estou indo para minha casa, meu lar, o lugar de onde eu nunca deveria ter saído. E o melhor de tudo: meu pai está comigo.
No horizonte, já vejo os primeiros raios da manhã. Parece coincidência, mas eu sei que não é.
Olho para cima e sorrio, em um agradecimento silencioso. Deus me ama e não precisa estrondar o céu para me provar isso.
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Esse texto faz parte do projeto 1001 Músicas que Edificam e foi inspirado na música Minha Menina, da banda Palavrantiga. Eu amo essa música e gostei demais de tê-la como inspiração.
Vou deixar o vídeo da música aqui para vocês conhecerem também.
Beijos e até a próxima!
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Postado por Colecionando Primaveras
Pernambucana, cristã, leitora compulsiva, viciada em música e colecionadora de primaveras e sonhos.
1 comentários
Belas palavras!! também amo essa música <3
ResponderExcluirLindo seu cantinho :)
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